EMENTA

Neste curso, exploraremos as seguintes questões: é possível conceber um modelo de educação com base no ato de filosofar? Como um filósofo aprende com outro? O que o mestre desperta em seus alunos? Como eles “se nutrem” desses ensinamentos? Qual o impacto deles na práxis, na forma de pensar e agir dos discípulos? Quais são as diferenças e contribuições deste processo de construção do conhecimento em relação ao modelo hegemônico em nossa sociedade?
Para responder a essas perguntas, estudaremos os impactos que as diversas influências, bem como a reflexão filosófica e artística provocaram em Edgar Morin, em sua formação, desconstrução e regeneração intelectual e, como esses conhecimentos se entrelaçaram com seu histórico de vida.
O ponto de partida será a obra ‘Meus Filósofos’ (2013), em que identificaremos quais os pensadores que marcaram o Pai da Complexidade. Em seguida, os contextualizaremos em seu período histórico e analisaremos os principais problemas aos quais eles responderam. Por fim, veremos as maneiras como esses filósofos se fazem presentes na vida e na obra de Morin.”
Não se trata, neste curso, de lermos os pensadores aos moldes de uma história da filosofia, mas de identificar o ‘páthos’ (πάθος: espanto, admiração, capacidade de interrogar, de indignar-se e de sofrer) que Morin experimentou por meio da contemplação desses pensadores, juntamente com os problemas que enfrentou em sua realidade.
Acreditamos que o processo educacional percorrido por Morin ocorreu principalmente pela comunicação do ‘páthos’ que ele incorporou desses pensadores, e só depois pela aquisição de conteúdos e teorias deles.
A paixão, os sonhos e pesadelos, as esperanças e as desesperanças dos mestres foram processados pelo discípulo, que os reviveu e os reelaborou, dando início, assim, à sua própria filosofia, a tecelagem do Pensamento Complexo.
Por isso, os problemas que seus antecessores buscaram resolver, as perguntas feitas por eles foram mais importantes do que as respostas, do que as aporias (impasses filosóficos sem uma solução) que foram retomadas, os conceitos secundários que chamaram mais atenção do que o comumente tido como principal.
E não é raro, Morin sendo fortemente influenciado pelos mestres, mas, pensando e escrevendo de forma radicalmente diferente.

OBJETIVO GERAL:

Estimular a emergência do pensamento filosófico nos participantes e promover o páthos nos sujeitos deste processo de elaboração do conhecimento, tanto discentes, quanto docentes.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

  • Identificar os traços presentes no histórico de vida e na personalidade de Edgar Morin que possibilitaram e compuseram a sua “alma inquieta”;
  • Conhecer e identificar filósofos e artistas que influenciaram Edgar Morin a tecer o pensamento complexo;
  • Compreender de que modo tais pensadores marcaram Morin e como eles estão presentes em sua vida e em sua obra;
  • Refletir sobre a perspectiva de “fazer educação”, baseada no fazer filosófico.

 

JUSTIFICATIVA:

Vivemos no auge do discurso prosaico, científico e racionalista. Essa forma de pensar trouxe inúmeros avanços à humanidade, possibilitando a criação de vacinas e medicamentos que salvaram milhares de vidas. Ela também nos impulsionou a explorar o universo, bem como a conhecer e manipular a física e a química, chegando às partículas subatômicas. Além disso, libertou parte significativa da população do desmando desmedido e absoluto de reis e clérigos, em épocas mais distantes. No entanto, esse tipo de pensamento tornou as relações humanas e nossas interações com a natureza mais frias e calculistas. Fomos instrumentalizados dentro do modo de produção, seja ele material ou intelectual. Antigos laços de solidariedade, de companheirismo e familiares estão cada vez mais frágeis e raros.

Em tempos atuais uma nova forma de armazenar e gerar informações surge e se desenvolve rapidamente com a Inteligência Artificial (IA). A IA imita o pensamento humano tanto em seu processo de aprendizado quanto na maneira como o transmite. Essas informações são estruturadas por algoritmos lógico-matemáticos e uma vasta quantidade de dados buscam abranger todo o saber acumulado.

Se o conhecimento humano se restringir apenas ao científico e racional, é possível que a IA se torne superior a nós, seres humanos, tornando-nos obsoletos. Também, nessa interação entre humano e máquina, podemos nos robotizar, nos assemelhar a ela, e perder ainda mais a compaixão, o amor ao próximo, a fraternidade.

O resgate da filosofia e do filosofar, podem ser um caminho para o devir da humanidade, em tempos de IA. Esse caminho pode contribuir para regenerar o humanismo, despertando capacidades adormecidas e esquecidas em nós. E a filosofia de Edgar Morin pode oferecer uma brecha para lidar com os desafios contemporâneos, integrando saberes e perspectivas diversas em busca de uma compreensão mais ampla e profunda da realidade.

METODOLOGIA

O curso, embasado na obra homônima, de Edgar Morin, traduzido e publicado no Brasil, pela Editora Sulina, em 2013, está organizado em módulos de encontros semanais online, com aulas síncronas, por meio da plataforma zoom, com apoio de slides, levantando-se questões e estimulando o debate por parte dos participantes. As aulas serão seguidas de discussões e comentários, após as apresentações.

Os módulos serão complementados por leituras indicadas e deverão ter uma estrutura flexível e adaptada às demandas e necessidades dos participantes, no sentido de garantir os aspectos conceituais, os recursos comunicacionais e as estratégias didáticas. Através da criação de situações que facilitem a interação e a expressão das próprias inquietações, necessidades e expectativas dos participantes serão geradas dinâmicas de discussão, de aplicação, de criação e comunicação de experiências.

CONCEPÇÃO DO PROGRAMA

Os conteúdos, as atividades e reflexões do presente curso estão agrupados em 08 (oito) módulos, de 02 h/a cada um, descritos a seguir, perfazendo um total de 40 h (incluídas as leituras sugeridas).

Módulo 1 – A Alma Inquieta de Morin: entre Sócrates e Dostoievski

  • O porquê e como Edgar Morin se “alimentou” da filosofia e de pensadores de diversas áreas do conhecimento;
  • Heidegger e o Páthos como a Arché da Filosofia;
  • A busca Incessante: “Só sei que nada sei”, de Sócrates;
  • Dostoievski e a compaixão universal;
  • A IA poderá ter todo o conhecimento humano produzido, mas terá páthos?

 

Módulo 2 – Heráclito, Beethoven e a Revolução Californiana

  • A realidade em constante mudança;
  • A dialogia entre os contrários;
  • Beethoven e a força da beleza da arte;
  • Sonata da Primavera: em meio às ruínas e à morte, anunciava um novo tempo;
  • Von Foerster e o Tetragrama: Ordem ↔ Desordem ↔ Interações ↔ Organização.

 

Módulo 3 – Buda, Jesus e a Consciência Ecológica

  • O budismo e o mundo da impermanência (aparências) e ilusão;
  • O sofrimento e o mal provêm do “querer-viver”?
  • Jesus, o amor e o perdão;
  • O improvável que se realiza e o provável que não se efetiva;
  • A Mensagem de Ivan Illich.

 

Módulo 4 – Descartes e Kant

  • “Cogito Ergo Sum”, “Res Cogitans e Res Extensa”;
  • “Grande Paradigma do Ocidente” ou “Paradigma Cartesiano”;
  • Kant e os limites do conhecimento;
  • Interação entre um dado empírico e a nossa mente.

 

Módulo 5 – Pascal e Montaigne

  • A aposta e o tetragrama pascaliano: Fé, Dúvida, Razão, Religião;
  • A antropologia complexa: “Que quimera é, então, o homem?”;
  • Trabalhar para o bem-pensar;
  • Cabeça Bem-Feita X Cabeça Bem-Cheia;
  • “Quem sou eu?”, interrogação essencial após o “Que sei eu?”.

 

Módulo 6 – Voltaire e Rousseau e Spinoza

  • A unidualidade humana;
  • ”Viver é a arte que quero lhe ensinar”!
  • O bom selvagem, a boa sociedade e a vontade geral;
  • Um novo “Emilio”;
  • Um maldito, um excluído, um marginal, eis o que era Spinoza.

 

Módulo 7 – Hegel e Marx

  • A dialética e a astúcia da razão;
  • A totalidade é a não verdade;
  • O Homem Genérico;
  • A “revisão” do marxismo;
  • Em busca dos fundamentos perdidos.

 

Módulo 8 – Edgar Morin

  • O Pensamento Complexo;
  • A boa e a má utopia;
  • O ser humano frente à IA;
  • Einstein: “não utilizamos senão 15% das capacidades de nosso cérebro”;
  • Conclusões inconclusas.

FORMATO

O curso será totalmente virtual, com oito aulas síncronas, de 02h cada; elas ocorrerão às quartas-feiras, das 20 às 22h, entre 08 de maio e 26 de junho de 2024 e as gravações ficarão disponíveis aos cursistas por mais um mês, para quem não conseguiu participar no momento da ‘live’ e/ou desejar proceder às consultas necessárias.

COMENTÁRIO REFLEXIVO-CRÍTICO

Após participar das aulas e estudar os textos indicados, o (a) cursista deverá realizar um comentário reflexivo-crítico, de até 2.000 (dois mil) caracteres com espaços, fazendo conexões entre os temas tratados nas aulas e a sua experiência profissional, seja ela docente ou não, até 30 dias após o término do curso.

CERTIFICAÇÃO

Os certificados serão disponibilizados a partir de 45 dias, do término do curso. Para receber o certificado de 40 horas, o (a) cursista deverá enviar o seu comentário reflexivo-crítico à secretaria do CEP Edgar Morin.

Sobre os Professores

Prof. Dr. Eduardo Costa

Prof. Dr. Wilson Horwath

Wilson Agnaldo Horvath possui graduação em Filosofia pela Universidade São Francisco (2001), mestrado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2012) e doutorado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2017). É professor universitário, estudioso de temas da Educação, como ensino-aprendizagem, Ensino de Filosofia e pesquisador da Complexidade há pelo menos 15 anos. Atualmente é Diretor no Cep Edgar Morin e Diretor do Instituto Mix de Cursos Profissionalizantes.

Prof. Dr. Eduardo Costa

Profª. Dra. Izabel Petraglia

Izabel Petraglia é diretora e cofundadora do Centro de Estudos e Pesquisas Edgar Morin, no Brasil. Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, graduação em Psicologia pela Universidade Paulista, mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado pelo Centro Edgar Morin, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais – EHESS, em Paris, França.

Mais de 30 anos de experiência no magistério do Ensino Superior, sendo os últimos 25 na Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação. Tem experiência em gestão acadêmica, tendo exercido cargos e funções de Diretora de Faculdade de Educação e Ciências Sociais, Coordenadora de Programa de Pós-Graduação em Educação e Diretora de Pesquisa. Em pesquisa em Ciências Humanas e Sociais, dedica-se especialmente aos seguintes temas: educação e complexidade em suas interfaces, transdisciplinaridade, formação de professores, gestão educacional, mudanças climáticas. É autora e organizadora de livros, capítulos e artigos. É conferencista nacional e internacional.

REFERÊNCIAS 

Referência Básica

 

MORIN, Edgar. Meus filósofos. Tradução Edgar de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco. Porto Alegre: Sulina, 2013.

 

Referências Complementares

 

Módulo 1

DOSTOIÉVSKI, Fiódor Mikhailovitch. Crime e castigo. Tradução, prefácio e notas de Paulo Bezerra. Coleção LESTE. 5ª. ed. São Paulo: 34, 2007

________. Humilhados e Ofendidos. Romance em quatro partes com epílogo. Tradução Klara Gourianova. São Paulo: Nova Alexandria, 2003.

HEIDEGGER, Martin. Que é isto – a filosofia? Tradução Ernildo Stein. São Paulo: Duas Cidades, 1971.

MORIN, Edgar. Meus demônios. Tradução Leneide Duarte e Clarisse Meireles. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1997.

PETRAGLIA, Izabel. “Olhar sobre o olhar que olha”: complexidade, holística e educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

PLATÃO. Banquete, Fédon, Sofista e Político. Tradução José Cavalcante de Souza, Jorge Paleikat e João Cruz Costa. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

Módulo 2

Heráclito. In: Os pensadores originários. Ed. Bilíngue. Tradução: Sérgio Wrublewski. Petrópolis: Vozes, 1999.

________. Tradução José Cavalcanti de Souza. In: Col. Os Pensadores. Vol. Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

LUDWIG, Van Beethoven. 9 Hours The Best of Beethoven: Beethoven’s Greatest Works, Classical Music Playlist. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3ZNYAfG85nQ  Acesso em: 08/03/2024.

MORIN, Edgar. Pensar Europa. Las metamorfoses de Europa. Tradução Beatriz Anastasi Lonne. Barcelona: Gedisa editorial, 1988.

_________. O método 1: a natureza da natureza. Tradução Ilana Heineberg. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003.

Módulo 3

BUKKYO, Dendo Kyokai. A doutrina de Buda. Tradução Jorge Anzai. São Paulo: Martin Claret, 2013.

KERN, Anne-Brigitte; MORIN, Edgar. Terra-Pátria. Tradução Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2003.

MORIN, Edgar. A via para o futuro da humanidade. Tradução Edgar de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

_________. Fraternidade – para resistir à crueldade do mundo. Tradução de Edgar de Assis Carvalho. São Paulo: Palas Athena, 2019.

_________. O método 6: ética. Tradução Juremir. Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005.

SAGRADA ESCRITURA. Bíblia de Tradução Ecumênica, TEB, São Paulo: Loyola, 1994.

Módulo 4

DESCARTES, René. Discurso do método. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 8. ed. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2013.

_________. Prolegómenos a toda metafísica futura: que queira apresentar-se como ciência. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1988.

MORIN, Edgar. O método 3 – O conhecimento do conhecimento. 2ª ed. Tradução Juremir Machado. Porto Alegre: Sulina, 1999.

_________. O método 5. A humanidade da humanidade – a identidade humana. Tradução Juremir. Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2002.

Módulo 5

MONTAIGNE, Michel de. Os ensaios. Tradução Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Martins Fontes, 2000-2001. 3v.

MORIN, Edgar. X da questão: o sujeito à flor da pele. Tradução Fátima Murad. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

______________. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (a).

PASCAL, Blaise. Pensamentos. Tradução M. Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

__________. As Provinciais: ou cartas escritas por Louis de Montalte a um provincial seu amigo e aos reverendos padres jesuítas sobre a moral e a política desses padres. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Filocalia, 2016.

 

Módulo 6

Espinoza, Baruch de. A Ética, in Os Pensadores. São Paulo: Editora Abril, 1979. ___________. Tratado Teológico Político. Tradução Diogo Pinto Aurélio. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 2000.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social; Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. São Paulo, Abril Cultural, 1973.

_________. Emílio, ou, da educação. Tradução Roberto Leal Ferreira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

 

Módulo 7

HEGEL, Georg W. F. Fenomenologia do Espírito. Tradução Paulo Meneses. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Tradução Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.

MORIN, Edgar. Em busca dos fundamentos perdidos. Textos sobre o marxismo. Tradução Maria Lucia Rodrigues e Salma Tannus. Porto Alegre: Sulina, 2002.

_____________; NAÏR, Sami. Uma Política de Civilização. Tradução: Armando Pereira da Silva. Coleção: Economia e Política. Lisboa – Pt: Instituto Piaget, 1997.