Apresentação Edgar Morin
Je soutiens très chaleureusement le Centre Edgar Morin fondé par Izabel Petraglia et Maria Candida Moraes qui ont très bien compris ma pensée et mon oeuvre.
(Apoio calorosamente o Centro Edgar Morin fundado por Izabel Petraglia e Maria Candida Moraes que compreenderam muito bem meu pensamento e meu trabalho).
Edgar Morin nasceu em 8 de julho de 1921, em Paris, França. Seus pais imigraram para a França com outros judeus espanhóis, durante a primeira década do Século XX. Com a perda de sua mãe aos nove anos de idade, as dúvidas e as tristezas aumentam e ele passa, então, a cultivar a saudade e a esperança. Esperança de alegria e de dias melhores; de uma energia cósmica capaz de encaminhar sua vida e seus sonhos para alguma direção que só nos inspira um ideal.
O comunismo, que mais tarde viria a acompanhá-lo tão de perto, lhe pareceu a solução e o caminho da crença em si mesmo, nesse ideal e na vida. A ideologia o impulsionava para as leituras e para os seus primeiros escritos. Aos treze anos já somava muitas tentativas e alguns ensaios inacabados refletiam a vivência de suas contradições.
Seu pai, modesto comerciante, procurava transmitir-lhe sua moral e seus valores através de sua experiência de vida sedimentada no trabalho e no acato à lei. Nesta fase de sua adolescência, a política lhe parecia ilusão e fanatismo, em contrapartida, sentia-se inconscientemente alimentado pela esperança da revolução que estava por surgir.
Influenciado pelo romantismo e pelo racionalismo, buscava fervorosamente o saber e a cultura através de muitas e variadas leituras, do teatro, das novelas e, sobretudo, do cinema, no intuito de aprender e descobrir, com uma curiosidade obstinada, que o acompanharia por toda vida.
Dos dezessete para os dezoito anos, vivia a confusão do período que antecedeu a guerra, momento marcado por profundos conflitos interiores. Por um lado pacifista, por repulsão à violência, por outro, socialista, por tudo o que, em si, o termo “socialismo” concentrava: liberdade, igualdade e fraternidade.
Viveu na carne o fim da República e a dor da guerra com todos os seus temores e amarguras, entretanto, jamais deixou de crer no amor e na razão, que sempre orientaram sua vida, seu pensamento, sua obra. Dos dezenove para os vinte anos, filia-se ao Partido Comunista, do qual faz parte por dez anos.
Em seu ingresso na Faculdade, impressionado pela guerra, dedicou-se com afinco à Economia Política, visto que, no momento, era a área que detinha o poder e seu projeto pessoal era fazer, através da política, a humanização do processo econômico. A partir daí, desejou obter todo o conhecimento e informações possíveis das Ciências Sociais. Matriculou-se, então, na Sorbonne, simultaneamente nos cursos de História, Geografia e Direito, frequentando, também, disciplinas de Ciências Políticas, Sociologia e Filosofia.
Concluídos os estudos em 1942, torna-se combatente voluntário da Resistência e tenente das Forças Francesas de 1942 a 1944, o que o fez refletir e compreender o valor da vida e da morte.
Foi representante do Estado Maior do Primeiro Exército Francês na Alemanha, em 1945, ano em que se casa com a socióloga francesa Violette Chapellaubeau, sua companheira de escola. Torna-se Chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa do Governo Militar Francês na Alemanha, em 1946.
Neste mesmo ano, publicou o seu primeiro livro “O Ano Zero da Alemanha”, pela Editora La Cité Universelle; uma obra sociológica, de cunho jornalístico, que procurou retratar as verdades vividas e observadas durante o período de guerra na Alemanha, sem preocupar-se com a linha nacionalista empregada pelo Partido Comunista. Procurou apontar, através da análise marxista, as possibilidades e deficiências de um país desfigurado, esforçando-se por reintegrar a Alemanha na história, na sociologia e na humanidade.
Após seu primeiro livro, que foi recebido com o silêncio e a negação de muitos, Morin passa a desenvolver trabalhos intelectuais, ainda militante do Partido Comunista e outras atividades jornalísticas, em Paris, no período de 1947 a 1950. De sua união com Violette, nascem duas filhas: em 1947, Irène Chapellaubeau Nahoum e, em 1948, Veronique Nahoum.
Entre 1948 e 1950, escreveu o seu segundo livro: “O Homem e a Morte”, publicado pela Editora Seuil, em 1951. Uma nova edição viria vinte anos depois, em 1970, trazendo em seu bojo novas conclusões acrescentadas pelo autor num momento de maturidade intelectual, o que lhe permitiu outras análises e reflexões complementares ao primeiro estudo.
Em 1951, é expulso do Partido Comunista por divergências em relação ao estalinismo e críticas ao dogmatismo. Ingressa, no mesmo ano, no Centre Nationale de Recherche Scientifique (CNRS) na condição de pesquisador, onde fica até 1989. Em 1961, torna-se mestre de pesquisa e, em 1970, doutor de pesquisa. Tornou-se então, institucionalmente, o que sempre fora: um investigador.
Marcado socialmente pelos textos ideológicos que vinha desenvolvendo, precisou diversificar sua linha de estudo e pesquisa, no intuito de fortalecer-se momentaneamente, e não obstante isto, autodidata que é, mergulhou nas investigações de um tema aparentemente inócuo, mas que considerava fonte de vida: o cinema.
Em 1963, Edgar casa-se com a artista plástica de origem quebecoise-caribenha, Joahnne, com quem viaja ao Brasil, diversas vezes. Após o fim dessa relação conjugal, Morin reencontra a amiga Edwige, que conhecera quando tinha 40 anos e ela 29. Casam-se após 17 anos de conhecerem-se, Morin com 57 e Edwige com 46 anos, em 1978. Permanecem casados até o falecimento da esposa.
Autor muito produtivo, detentor de vasta obra, especialmente sobre antropologia, política, filosofia, cinema, comunicações. Em 1977 publica o primeiro volume de sua mais importante obra “O Método”, que daria origem a seis volumes:
1- A natureza da natureza;
2-A vida da vida;
3-O conhecimento do conhecimento;
4-As ideias;
5-A humanidade da humanidade;
6-Ética.
Mais tarde, duas obras coletivas são lançadas no Brasil com a participação de Morin em 97 e em 98. A primeira, de 1997, intitulada “Ensaios de Complexidade” organizada por Gustavo de Castro, Edgard de Assis Carvalho e Maria da Conceição de Almeida, foi editada pela Editora Sulina. E a seguinte, de 1998, “Ética, Solidariedade e Complexidade”, publicada pela editora da Associação Palas Athena, foi fruto de uma mesa redonda realizada no TUCA – Teatro da Universidade Católica – numa promoção conjunta da PUC com a Associação Palas Athena. Fizeram parte do debate, que deu origem ao livro, além de Edgar Morin, Edgard de Assis Carvalho – PUC/SP, Maria da Conceição de Almeida – UFRN, Nelly Novaes Coelho – USP e Nelson Fiedler-Ferrara – USP.
Morin torna-se cada vez mais assíduo ao Brasil, especialmente convidado pela Profa. Dra. Maria Conceição de Almeida, coordenadora do GRECOM – Grupo de Estudos de Complexidade, da UFRN e, Prof. Dr. Edgard de Assis Carvalho, coordenador do COMPLEXUS, da PUC/SP. Em setembro de 1998, realiza-se o “I Congresso Interlatino para o Pensamento Complexo”, na Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro. Este congresso aglutinou em torno do tema, diversos pesquisadores, artistas e professores de diversos países e das mais variadas áreas do saber.
A partir de 1998, Morin dedica-se com afinco à Educação e a assume como responsabilidade cidadã e planetária.
Do mesmo modo, no fim do século, vários documentos surgiram em diversos cantos do mundo com a finalidade de se pensar e educação no novo milênio. Morin também foi chamado a participar dessa empreitada, dessa vez, convidado pela UNESCO. Suas ideias, numa primeira elaboração, circularam por diversos países, com a finalidade de serem acrescidas e ou reformuladas por outros educadores. Incorporadas sugestões e reflexões, a sistematização feita por Morin, deu origem ao livro “Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro”, originalmente editado, em 1999, pela UNESCO e depois pela Editora Seuil, com inúmeras traduções para outros países.
Em 1999 é criada a “Cátedra Itinerante UNESCO ‘Edgar Morin’ – para o Pensamento Complexo”, com sede na Universidade de Salvador, em Buenos Aires, Argentina e funda com Candido Mendes, a “Academia da Latinidade”, sediada no Rio de Janeiro, Brasil.
Por seu trabalho, recebeu vários prêmios, entre eles o Prêmio Europeu de ensaio Charles Veillon – 1988; Prêmio Viareggio Internacional – 1989; Palma de Ouro no Festival de Struga – 1990 e Prêmio Europeu da mídia pela cultura – 1991. É Doutor Honoris Causa por diversas Universidades no mundo, tais como: Universidade de Perugia, Cosenza, Palermo e Milão, Universidade de Genebra, Universidade de Bruxelas; Universidade Tecnológica de La Paz, Universidade Autônoma de Nuevo Leon, no México; Universidade Laval, Laus Honoris Causa pelo Instituto Piaget, em Portugal e, no Brasil, Universidade Candido Mendes, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal da Paraíba, Universidade de Passo Fundo e, outras.
Contemporâneo de Henri Atlan, Ilya Prigogine, Félix Guattari e Monod, Edgar Morin ao longo de sua vida sofreu várias influências em momentos distintos da história e, também, suas ideias influenciaram e influenciam muitos pensadores filósofos e estudiosos de diversas áreas da ciência, hoje. Nas ciências sociais e políticas, foi influenciado pelos textos de Marx, Charles Gide, Simiand, Pirou, Hauser e outros; na Psicologia, por Freud, Jung, Lacan, Rank, Ferenczi e Bachelard; na Filosofia, por Montaigne, Pascal, Rousseau e Proust. Historiadores como Lamartine, Aulard, Jaurès e Mathiez também o influenciaram, participando da própria história que escreviam. Na reflexão sobre a ciência, compartilhou de muitas ideias de Castoriadis, Serres, Husserl, Kuhn, Popper, Lakatos e Feyerabend.
O seu universo cultural também o influenciou sobremaneira no que tange ao cultivo pessoal, no lapidar de sua sensibilidade e no delinear de seus padrões estéticos, no gosto pelas artes e na definição de seu estilo literário marcado pelo rigor do texto, pela coerência de pensamento, por sua linguagem clara e precisa. Traz em si as marcas da cultura de seu tempo e daqueles que a fizeram através da história. Tiveram importância em sua formação as obras de Molière, Shakespeare e Cervantes, como também Balzac e Flaubert e ainda Tolstoi e Dostoievski. Leu Rimbaud, Shelley, Novallis e Hölderlin e entre suas óperas prediletas estão Don Juan, A Walkiria, Boris Godunov, Peléas e Wozzeck. A magia do cinema também desempenhou importante papel na sua formação cultural e pessoal.
Uma boa surpresa surge em sua vida, próximo aos 90 anos de idade: Conhece e se apaixona por uma linda mulher, a socióloga marroquina Sabah Abouessalam, com quem se casa e vive uma linda história de amor, até hoje! Em 2021 o mundo intelectual, as ciências e os amigos de Edgar Morin celebraram com ele o centenário de seu nascimento! Uma vida coroada por “Amor, Poesia, Sabedoria”, título de uma de suas obras, publicada no Brasil, em 2011.
(Fonte de pesquisa: PETRAGLIA, I. Edgar Morin e a complexidade do ser e do saber, 13. ed. Ed. Vozes, 2021).